Ironia Trágica
O conceito de ironia trágica pressupõe a convicção de que sem ironia não há tragédia. Este conceito remonta à obra de Connop Thirlwall, "On the irony of Sophocles" na qual ele defende a existência de dois níveis de ironia na tragédia. O primeiro desses níveis é o que ele chama de “ironia da acção (trágica)” e o segundo de “ironia do poeta (trágico)”.
A ironia da acção trágica é o que permite diferenciar a ideia de destino propriamente trágica da ideia de destino presente nos mitos que a tragédia toma como matéria-prima. Enquanto nos mitos o destino aparece como uma espécie de necessidade cega, de violência em estado bruto que arrasta gratuitamente o herói, apresentado como marionete dos deuses, na tragédia não há tal passividade. A queda do herói, para ser trágica, precisa em alguma medida de ser auto-infligida. A ironia da acção trágica, como bem mostrou Peter Szondi no seu ensaio sobre Édipo Rei, repousa sobre “a unidade de salvação e destruição. A destruição em si não é trágica, mas sim o facto de que a salvação vire destruição. O trágico não se consuma com a queda do herói, mas sim com o facto de o homem naufragar no caminho que tomou justamente para escapar ao naufrágio”. Essa é, aliás, uma possível interpretação do que Aristóteles chama de Peripécia.
André
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