quarta-feira, 24 de setembro de 2008

«Linguagem Universal» de M. S. Lourenço


O título deste excerto, retirado de Os Degraus do Parnaso, de M.S. Lourenço, é «Linguagem Universal». A partir de uma apresentação geral do texto e da nomeação dos seus conteúdos fundamentais, consigo seguir para uma mais profunda compreensão da obra do autor. Este texto contém vários sub-temas que rodam em torno de uma ideia fundamental e que, de certa forma, se interligam uns após os outros.
O escritor, ao longo do texto, mostra o seu conhecimento acerca do tema tratado, não deixando de opinar e de expor certos pontos de vista acerca da Literatura e da relação desta com os mais variados assuntos.

A ideia primordial que retiro deste texto é a existência de dois mundos distintos: um mundo exterior, objectivo e palpável; e um mundo interior, não mensurável, mas espiritual. Apesar das distintas características de cada um deles, o próprio homem encontra-se sempre na fronteira entre um e o outro. Para além de viver num mundo que vê e que se lhe apresenta como concreto, tem conhecimento do mundo inexprimível que também lhe pertence. É vulgar que em muitas situações o homem se sinta obrigado a passar para um dos mundos, não encontrando a complementaridade entre os dois.
A ciência estuda uma realidade objectiva, que a humanidade conhece e que é o mundo exterior. É nesta realidade que a pessoa vive uma parte das suas experiências.
Por outro lado, existe um mundo que corre dentro de si, o furor dos sentimentos, as memórias, as angústias. Este só pode ser “estudado” ou compreendido quando a própria pessoa deixa uma abertura por onde escapam os seus sentidos, o seu interior. O homem detém laços com cada uma das suas partes e não há força que o faça largar uma delas.
O escritor vive uma experiência transcendente, tão marcante que acaba por moldá-lo.
A “percepção da realidade sensível e a intuição da realidade inexprimível” só é possível através da experiência transcendente. Por isso, a obra está sempre baseada na experiência própria, sendo, por isso, um texto autobiográfico. É através da obra literária que o artista faz a ligação destes dois universos.
A Literatura serve, então, como uma Linguagem Universal, na medida em que une dois mundos distintos do próprio Homem e os torna compreensíveis em conjunto.

O artista literário


Agora, falando concretamente do sujeito criador da arte literária, podemos enumerar certas características que lhe pertencem.
O artista verdadeiro é aquele que alcançou sensibilidade para perceber as duas realidades, graças a um “Sopro Divino”, que lhe rodeia o espírito. É este Sopro, este Dom, que lhe confere a confiança de que o que está a fazer está bem feito. Cada pessoa faz uma interpretação desta Graça, pois cada pessoa é tocada de uma maneira particular e única.
O artista verdadeiro é aquele que já viveu uma experiência para além do real e é através desta que, simbolicamente, transfere o que viveu para o papel. O escritor precisa de apoiar e validar a sua obra com uma experiência própria, com um episódio que conhece, com uma lição que aprendeu. A descrição de um momento em concreto da vida do escritor torna-se a prova viva do conhecimento que ele detém.
Sendo assim, o artista possui conhecimento verdadeiro, já que o que descreve são objectos concretos e reais de que o artista tem plena consciência da sua existência (não são frutos da sua imaginação).
M.S. Lourenço tenta explicar que o conhecimento é também uma realidade objectiva, já que o artista parte de dados reais e não apenas de ideias mentais.
Esta reflexão ajuda-nos a perceber o sentido da frase “O artista literário rejeita assim a esquizóide parafernália da concepção idealista da representação da realidade por meio de imagens mentais, e a consequente degradação do conhecimento a uma experiência irredutivelmente subjectiva”.

Literatura e Conhecimento

Relativamente à Literatura, posso afirmar desde já que só se pode “fazer” Literatura se se detiver o conhecimento acerca do que se vai escrever. Esta não é como uma ciência, não exige respostas únicas e certas, como acontece com a Física e com a Matemática. O artista deve acreditar na verdade do conhecimento que alcançou, já que a determinação e o trabalho justificam a falta de certezas absolutas; caso contrário, o cepticismo – sendo um obstáculo à actividade criadora – acaba por vencer o artista. O artista não se deve deixar levar por dúvidas e deve envolver-se no que constrói, consciente da sua Verdade.
A Literatura estuda a “vida interior”: aquilo que o escritor vive reflecte-se na sua escrita, mesmo que muitas vezes não tenha essa consciência. A esta disciplina está bastante ligada a psicologia.
O artista, na sua escrita, utiliza uma Linguagem Universal, capaz de responder às exigências do mundo palpável e do mundo interior, devido ao conhecimento que tem vindo a deter através das experiências.

A Literatura sendo autobiográfica


A obra literária é sempre baseada em qualquer coisa pessoal - desde um momento particular até a uma simples reflexão por nós realizada - mesmo que o leitor nem sempre se aperceba. A criação é sempre um espelho do interior com a armação da realidade exterior, daí a ser tão fundamental a crença no que se produz.
O valor do artista está de certa forma revelado no seu método autobiográfico e na forma como ele encaixa os vários momentos, objectos, movimentos, tudo o que regista.
Podem existir textos mais autobiográficos do que outros. Nesse caso, apenas existe uma diferença na intensidade desse mesmo tom autobiográfico, não deixando o texto de o ser.
Tudo o que escrevemos tem um pouco do seu autor e a escrita é uma maneira de se conhecer a personalidade artística.

Literatura e Ciências


Quer a Literatura quer a Ciência giram numa órbita em busca da Verdade acerca das coisas de que se ocupam, embora tenham métodos diferentes.
Enquanto que na literatura o uso de sentimentos e da intuição pode ser válido e crucial, nas ciências nada deve constar para além dos factos realmente provados – já que a intuição não é fiável e o próprio homem é inconstante. É por esta razão que o Homem sempre se apoiou nas ciências: estas são matérias que lhe dão as seguranças e as certezas que nunca consegue alcançar. Somos chamados a juntar o raciocínio lógico e a intuição como duas categorias psíquicas essenciais para a busca de conhecimento.
Com a utilização da intuição somos capazes de interpretar textos que contenham expressões simbólicas, atribuindo-lhes um sentido pessoal.
Marta Serra, nº21 11ºD
Salvador Dalí, «Auto-retrato» (1941)
Perdida… Era como me sentia naquele momento. Tantos sacrifícios, tantos sentimentos misturados, tanta felicidade forçada, tantas foram as vezes que andei de olhos fechados. Quando acordei, vi o mundo branco, quando olhei para o lado, vi os erros que tinha cometido. Erros esses que me entristeceram, erros esses que me fizeram crescer.
Cresci mais cedo, amadureci rapidamente. Deixei de ser uma miudinha, passei a ser alguém com sentimentos.
Andava por ai a vaguear, à procura da felicidade. Felicidade essa que nunca mais chegava mas eu sabia que mais tarde ou mais cedo esse dia ia chegar, porque eu merecia ser feliz.
Um dia banal, igual a todos os outros, talvez um bocadinho mais especial, essa felicidade ia-me bater a porta. Olhei para trás e olhei-lhe nos olhos. Um estranho sentimento permaneceu nessa noite. Passou a permanecer dia e noite. Dias se passaram e lá estava ele a marcar sua presença. Sentimento que com o tempo tornou-se em amor. Amor que trouxe de volta a minha felicidade. Desta vez não era uma felicidade forçada mas sim uma felicidade sentida.
Amor e felicidade que continua a crescer. Amor e felicidade que durará para sempre.
Hoje olho para o passado com o fim do meu sofrimento. Hoje olho para o futuro como o princípio da minha felicidade.
Raquel Salvaterra, em 2007/08

Sobre «O Pintor da Vida Moderna», de Charles Baudelaire

Charles Baudelaire fixa-se no tema da beleza que há na arte. Refere a quantidade de gente que só se fixa na beleza dos quadros mais populares e conhecidos, e que afirmam conhecer a pintura, a verdadeira pintura. No entanto, os quadros aos quais não lhes é dispensado um olhar, são os mais notáveis e particulares.
Apesar disso, há pessoas conscientes que reconhecem que os poetas e artistas menores também expressam algo de fascinante, um belo particular e muitos amadores já reconhecem e estudam esses antigos artistas do nosso passado.
Mas o que importa neste momento é o presente.
O passado é interessante na medida em que já foi presente, e também porque agora o olhamos com um maior valor histórico. A mesma coisa se passa com o presente: tiramos proveito de representações do presente, porque essencialmente têm beleza por serem únicos, ao serem de agora e de nunca mais. Consigo perceber bem o que quer dizer: o belo tem a sua beleza por se distinguir dos outros, por ser uma expressão pessoal da imaginação, que se torna ainda mais especial ao percebermos que fazemos parte desse presente, e dessa beleza.
Tudo o que o homem faz na moda, que acha belo, fá-lo dependendo do que gostava de ser e parecer. O valor que o homem dá ao belo varia com a época, com a cultura e mesmo com o interior do próprio homem. O homem cria a moda segundo o valor que tem pelo belo. Mas o belo, esse, mantém-se inalterável.
Ao vermos muitas roupas e modas passadas, achamo-las, de certa forma, ridículas e ingénuas demais. Mas essas modas não passam de objectos indefesos para uma futura fase da moda: “o passado, sem deixar de conservar o picante do fantasma, retomará a luz e o movimento da vida, e far-se-à presente”.
A modernidade é ao fim e ao cabo uma certa maneira de nomear o futuro. Se olharmos para todas as modas existentes até agora, não encontraremos nada de novo, porque elas no fundo repetem-se como numa escala, portanto não há surpresas.
Se repararmos também no pensamento filosófico de cada época histórica, encontramos harmonia entre o estilo de roupa e essa ideia de vida. Porque no fundo, a moda consegue influenciar o modo e o pensamento de vida, e, inversamente, a maneira de ver o que nos rodeia influencia a moda. E isto acontece porque o belo consegue sempre satisfazer-se e encontrar abrigo.
O autor acaba por esclarecer ainda mais a questão do belo. O belo é constituído por dois componentes: o belo ETERNO e inquestionável, que está na “alma” da arte; e um elemento relativo e variável: que é a época, a moda, a moral... Sem esse segundo elemento, é impossível olhar o núcleo da arte. É preciso olhar o que a envolve, o que transmite a nossa natureza e, a partir daí, encontra-se a beleza, a beleza escondida que muitas vezes não se vê à primeira vista. Não há beleza sem estes dois elementos.
Isto está ainda mais esclarecido na frase: “A dualidade da arte é uma consequência fatal da dualidade do homem”. A parte eterna é a alma e o elemento varíavel é o corpo.
Agora relacionando o belo com a felicidade, aparece uma frase no texto que me guiou de certa forma: “o Belo não é mais que a promessa da felicidade”.
Na minha opinião, a felicidade é algo tão poderoso e fundamental que o belo não é capaz de ter a mesma grandeza que ela. Por mais que se pense que a felicidade está na moda, e nessas coisas materiais, não é verdade. A felicidade não se pode encontrar nessas coisas. Também não é preciso ser ou ter o belo para ser feliz, porque isso depende de nós e do valor que atribuímos às coisas. Tudo depende de nós. Mas digo também que na maior parte das vezes sentimos felicidade ao achar alguém belo (fisica ou psicologicamente), uma situação, uma realidade, qualquer coisa. A felicidade depende da nossa maneira de encontrar o belo no que nos rodeia; na realidade, há pessoas que não encontram felicidade porque não conseguem ver o belo em nada, para elas o mundo é preto.
É verdade, sim, que hoje em dia estes três aspectos estão muito ligados: a moda que faz pessoas felizes; o belo que trás o sentimento de felicidade para alguns, e também o facto de que tudo o que nos trás felicidade é BELO. Concluo dizendo que a felicidade está em cada um de nós e no que somos.

No segundo capítulo, Baudelaire fala principalmente da importância de se estar atento a todos os movimentos e situações, porque esse pequeno movimento leva a uma bela criação de arte, tão rapidamente executada como o movimento.

O artista, homem do mundo, homem das multidões e criança

Começa por caracterizar alguém que muito admira, um artista verdadeiro, modesto e brilhante. Vou indicar os aspectos que o levaram a considerá-lo assim. Não assina obras com letras, mas na sua obra está delineada e exposta a sua alma. É curioso, gosta do seu mundo sem que se intrometam ou simplesmente que o elogiem. Não gosta de ser tema de conversa. Torna-se chefe e comandante de si mesmo, educa-se conforme as suas leis; inesperadamente descobre que tem valor dentro de si. Viaja e conhece. Desenha sem intenção. É um homem do mundo, que o compreende e o aceita pois aprecia tudo. Envolve-se no meio onde vive e é perseguido pela curiosidade. Basta um olhar no meio da multidão para o deliciar. E o facto de estar sempre num estado de curiosidade, fá-lo ser uma criança. Fascina-se com tudo, mesmo pelo vulgar. É feliz, e vê o belo por todo o lado. É feliz precisamente porque a vida é bela.
Agora, apesar de velho e sabedor, encontra felicidade diante do novo que o rodeia. E não é insensível. Pode estar fora de casa mas sente-se sempre em casa; gosta de estar no mundo e ao mesmo tempo escondido dele. Vive numa sociedade composta pelas telas que pinta. E não perde nada da vida, vê só a beleza do seu mundo. Delicia-se com a vida vulgar e quotidiana. Não perde minutos do dia, e fica até a luz se sumir por completo. E passa uma vida bem aproveitada, porque conheceu tudo.


Todos nós somos capazes de aproveitar e viver a nossa vida e de a preenchermos à nossa maneira, se virmos o belo da vida, se recordarmos o que temos neste instante, se nos lembrarmos da sorte que temos em existir, apenas a ver o mundo. Só isso nos pode trazer felicidade.
E depois de um dia belo, facilmente pega num lápis, ordena a memória, procura-a, percebe-a como uma criança e deixa-se levar. Este é Constantin Guys, um homem do mundo e para o mundo. E não só: é também a descrição de um verdadeiro homem.
Porque o trabalho de um artista não consiste só em pintar ou em escrever, mas sim em entender a arte que há na vida.

A modernidade

E com esta descrição toda que acabei por fazer, percebi que o objectivo do autor é procurar algo que se possa parecer com a modernidade, algo momentâneo. Quer encontrar algo de especial e poético, algo que o possa atrair.
“A modernidade é o transitório, o fugidio, a metade da arte, sendo a outra parte o eterno único”. Cada época tem a sua forma, o seu estilo, a sua pintura. E a modernidade reveste-se desse olhar, desse sorriso, como meio para exprimir o que realmente quer transparecer: o belo, o eterno, a poesia, a beleza, a emoção. Uma beleza misteriosa e que só aqueles que a vivem e a sentem é que podem perceber.
E relaciono isto com o homem: cada um tem a sua maneira de ser, modo de agir, de falar, de se relacionar. E isso tudo só tem sentido se tiver por detrás uma alma, uma emoção que se queira mostrar através desses actos, que mostre o que somos realmente.
Para que essa modernidade seja tornada antiguidade, é preciso que a mensagem escondida tenha chegado ao destino, tenha embelezado, para, assim, ser reconhecida. Porque através do corpo conseguimos descobrir o espiritual que há por detrás.
E como Constantin Guys, primeiro viveu a vida, sentiu-a, viu o belo, pôde sentir a felicidade dentro de si para depois estar pronto para a transmitir aos outros nas mensagens que lançou ao ar, mas que poucos conseguiram apanhar por ser tão profunda. E foi assim que se tornou um verdadeiro homem, repleto de felicidade e de arte. E afinal de contas, qual é a meta de qualquer homem?
Marta Serra, em 2007/08

O Sentimento de culpa...

Esse sentimento, fácil de aparecer, difícil de desaparecer e tantas vezes inesquecível!

Existem tantas formas de sentir culpa… Podemos senti-la por não termos apoiado quem tanto precisava de nós, podemos senti-la por ferir alguém que nos amava, podemos sentir por ter enganado alguém que não merecia, podemos sentir porque pensamos não ter feito o suficiente, podemos apenas senti-lo!

Günter Grass, antigo soldado nazi, deve conhecer o sentimento de culpa melhor que tantas outras pessoas! O passado dele continua presente, todo sofrimento causado nas pessoas, tudo aquilo que fez enquanto na juventude nazi, “…é grande a tentação de nos abstrairmos totalmente das nossas próprias falhas…”

A verdade é que por muito que possa ser perdoável, o passado está presente, e tudo o que fizemos, apenas não se vai, por muito que custe!

O antigo soldado nazi, vencedor do prémio Nobel da literatura em 1999, fala-nos em divida e culpa dizendo que uma palavra puxa a outra, “…tão firmemente enraizadas no solo fértil da língua alemã…”, nem sempre nos é fácil falar nos nossos erros, no nosso sentimento de culpa, maioritariamente custa falar sobre ele, mas o ser humano tem essa necessidade, é tão complicado guardar essas coisas para nós!

Então, há quem opte pela escrita, “será que quando escrevemos fazemo-lo para resolver uma circunstância de desconforto interior?” escrever, talvez seja uma necessidade imposta por nós quando não conseguimos confidenciar a alguém o que nos vai no pensamento, ou apenas porque preferimos apenas guarda-la para nós!

Considero que me ajuda a pensar, me ajuda a organizar a cabeça, e todos aqueles pensamentos que andam perdidos!
Mafalda Monteiro, em 2007/08

Curriculum Vitae

Nasci em Lisboa a 11 de Agosto de 1992 e morei em Oeiras até aos 6 anos.
Do meu apartamento só me lembro de uma varanda gigante que lá havia. Era o meu sítio preferido. Era lá que eu passava horas a brincar com o meu irmão.
O meu irmão também era muito pequeno nessa altura e atirava frequentemente coisas pela varanda abaixo para cima das pessoas que passavam. Era uma brincadeira muito engraçada, mas os meus pais não achavam grande piada. Um dia mandaram fechar a varanda. Passou a ser um género de uma caixa, com janelas altas, para que nós não lhe chegássemos. Nunca mais foi o mesmo.
Andei no infantário da estação Agronómica e a princípio foi difícil. Passava o dia todo ansioso, à espera que os meus pais me fossem buscar e a hora da sesta era a que eu mais detestava.
Aos 6 anos, a minha vida teve uma reviravolta. Mudei de casa, fui viver para uma vivenda em Oeiras e passei a frequentar a Escola da Nuvem.
A minha professora era a Luísa e era muito paciente comigo; fazia sempre todos os possíveis para melhorar a minha caligrafia.
Em 2002, fui para o 5ºano na Escola Conde Oeiras. Fiz lá o 5º e o 6ºano.No 7º, transitei com quase a minha turma toda para a Quinta do Marquês.
Foi uma grande mudança. A escola era gigante e tinha alunos muito mais velhos, incluindo o meu irmão que na altura andava no 11ºano.
Tive sempre bons resultados e no final do 9ºano resolvi seguir economia.
Actualmente ando no 10ºano e não me arrependo nada da área que escolhi.
João Figueiredo, em 2007/08

A Propósito de «Uma Esplanada sobre o Mar», de Vergílio Ferreira

O conto que vou apresentar chama-se “ Uma esplanada sobre o mar” e pertence ao livro “Contos” de Vergílio Ferreira.
Vergílio Ferreira nasceu em Melo, no concelho de Gouveia, em Janeiro de 1916 e reuniu em si diversas facetas, destacando-se a de filósofo e a de escritor, a de ensaísta, a de romancista e a de professor. No entanto foi na escrita que mais se destacou, sendo dos intelectuais contemporâneos mais representativos. Toda a sua obra está impregnada de uma profunda preocupação ensaística.Este escritor foi também um existencialista por natureza. A sua produção literária reflecte uma séria preocupações com a vida e a cultura.
A sua obra recebeu influências do existencialismo de Satre, de Marco Aurélio, Santo Agostinho, Pascal, Dostoievski, Jaspers, Kant e Heidegger. Os clássicos gregos e latinos como Ésquilo, Sófocles e Lucrécio, também assumiram uma importância vital nos pensamentos deste escritor.
O romance Uma Esplanada sobre o Mar (1987), que é aquele de que vos falo, recebeu o prémio da Associação Portuguesa de Escritores, e Em Nome da Terra (1990) retomam o tema da transitoriedade da vida, sujeita ao passar do tempo. O espólio do escritor composto por prémios, livros e alguns objectos pessoais foi doado a Gouveia, concelho de onde Vergílio Ferreira era natural e estão em exposição na Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira. O seu espólio de originais manuscritos de quase todos os seus romances foi doado à Biblioteca Nacional.
Parte superior do formulário
Relativamente ao conto, este trata de uma rapariga loura, de olhos claros e de uma tez de pele muito bronzeada do sol que se encontra numa esplanada sobre o mar a observar as ondas e os seus movimentos ondulatórios envolventes. Esta encontra-se à espera de um rapaz igualmente louro que a terá convidado com o objectivo de terem uma conversa na medida em que este lhe queria fazer uma revelação.

Quando o rapaz chega, senta-se e inicia a conversa. Durante o período em que este diálogo decorre o rapaz demonstra-se pouco explícito, “enrolando” a conversa tal como se caracteriza o movimento ondulatório das ondas, relativamente ao assunto que motivou a ida da rapariga à esplanada daquela praia, sendo que esta tenta de todos os modos saber qual a finalidade de tal encontro, demonstrando-se frequentemente impaciente face ao facto de que o rapaz não se encontra a ser objectivo. Por sua vez, o rapaz, encontra-se aparentemente sereno, tentando explicar a rapariga que existe um certo momento na nossa vida em que dedicamos especial atenção aos mais pequenos pormenores, em que observamos as coisas mais insignificantes de uma forma muito particular, de uma forma intensa e esse momento será o momento em que temos a consciência que podemos perder tudo isso, até como já referi as coisas mais insignificantes.
No fim do conto, o rapaz acaba por lhe revelar que o médico lhe disse que lhe restavam 3 meses de vida e, é deste modo que acaba o conto.
O narrador é não participante visto que apenas narra o conto não participando neste.
O existencialismo é uma corrente filosófica que surgiu na primeira metade do século XX e que se fundou na situação de um indivíduo que mediante a vivência num universo absurdo, sem sentido, que não é credível do ponto de vista da realidade em que vivemos, em que o homem enquanto humano, é um ser dotado de vontade própria, portanto o existencialismo é uma reflexão sobre a existência humana, é a viragem dos pensadores para a problemática desta temática.
Jean-Paul Satre é o fundador desta corrente filosófica que ele próprio define como uma corrente de pensamento que reabsorve o próprio “eu” de cada um, toda e qualquer problemática e a revê através do seu raciocínio pessoal ou da sua profunda vivência e tal como ele diz “O Homem está condenado a ser livre”, querendo isto dizer que a liberdade é um peso, é uma responsabilidade tanto no bom sentido como no mau sentido, sendo que neste podemos destacar como exemplo, a guerra.
A liberdade, sendo entendida como a ausência de constrangimentos, a capacidade de fazer tudo o que se quer, uma atitude de auto-determinação, é autonomia, é independência, é uma construção pessoal que implica consciência e responsabilidade, portanto os seres humanos são sujeitos dotados de liberdade, que realizam as suas acções irregulares e imprevisíveis, de modo consciente e livre, pelo que o agente da acção é sempre responsável pela escolha que faz.
Certos conceitos como o desespero, o nada, o vazio constituem categorias negativas nos quais determina o homem na busca pelo sentido da existência e, penso que esses conceitos se relacionem um pouco com a personagem masculina que surge neste conto sentada à mesa com a rapariga.
Esse personagem refere que na parte final do conto pretende transmitir à jovem que o médico o informou de que tinha apenas 3 meses de vida e penso que já neste caso particular podemos identificar que pode surgir talvez o conceito de um desespero interior enorme, de uma frustração incalculável porque, possivelmente, este pensa que tudo o que fez até ao momento foi em vão, que não valeu de nada todos os esforços, todo o tempo gasto, poderão ainda surgir perguntas como: “Porquê a mim?”, “O que é que eu fiz para merecer isto?”, relacionando-se sobretudo neste âmbito. Estas questões que talvez para nós sejam meramente interrogações, para aquele sujeito poderiam constituir uma força na razão de que talvez pudesse encontrar uma explicação, uma resposta para as suas mais ínfimas questões referentes aquele facto.
Seguidamente, depois de muito reflectir, o rapaz opta por revelar a verdade à rapariga e, penso é nesta situação que poderá surgir uma sensação de vazio, de nada porque sente que está sozinho perante tal situação.
Inês Santos, em 2007/08

A Culpa

Na minha opinião, culpa é um conceito inigualável, uma palavra que nos traduz um sentimento com que por vezes nos deparamos. A culpa é um sentimento, que por mais que tentemos esquecer ou apagar da nossa memória, não conseguimos. Eu penso que esse sentimento persiste até fazermos algo que possa remediar qualquer situação que nos faça deparar com a culpa.
Se formos pensar na quantidade de vezes que nos sentimos culpados, penso que não têm conta, são inúmeras as vezes que tal acontece.
Eu consigo definir dois tipos de culpa: a culpa passageira, aquela com que nos preocupamos, aquela que sabemos o que fazer para atenuá-la rapidamente; e a culpa inesquecível, derivada de qualquer acontecimento por nós provocado e que nos é impossível atenuá-la. Eu penso que é essa a culpa que persiste no dia-a-dia até ao fim da nossa vida que nos provoca angústia e amargura.
Uma boa maneira de tentar resolver uma circunstância de desconforto é, na minha opinião, partilhando com alguém a nossa dor, mesmo que esse alguém se converta numa folha de papel, sendo por mim considerada uma boa maneira, a escrita, a partilha das nossas mais profundas inquietações com algo que nos ouve, que está sempre lá para qualquer desabafo.
Em suma e numa interpretação pessoal, a culpa é um sentimento que nos prende a algo que não queremos recordar e muito menos voltar a viver.
Inês Santos, em 2007/08

Página de Diário

O silêncio permanente de uma manhã escura e triste.
Ao ouvir um choro distante, abro os olhos e levanto-me.
Dirijo-me para a cozinha e, ao abrir a porta deparei-me com a minha irmã, que quando deu pela minha entrada limpou rapidamente os olhos e baixou suavemente a cara. Agarrei a sua mão fria e trémula e perguntei-lhe, como se não soubesse, o que se passava.
O seu olhar bastou. Dei-lhe um abraço com toda a força que me restava e corri para o meu quarto. O sentimento de revolta era mais do que muito. Sempre pensei que as pessoas permaneciam comigo para sempre. Sentei-me no canto do quarto às escuras. Sabia que chorar não a ia trazer de volta, mas não conseguia parar de o fazer.
Queria ter dito muito mais do que disse, queria ter passado mais tempo do que aquele que realmente passei. Peguei no telefone, precisava de desabafar. Contei-lhe tudo e ela não sabia o que dizer, mas o que disse bastou. Disse-me aquilo que eu precisava de ouvir, “ela só morre quando tu deixares”. Esta frase marcou-me.
O que mais me custa é saber que por muito que a chame, por muito que lhe peça para ela voltar, ela não vai ouvir.
Por muito que me doa,são estes acontecimentos que me ajudam a crescer.
Catarina Correia, em 2007/08

Auto-retrato

Olhando-me ao espelho não me vejo a mim, vejo vários ‘eus’.Vejo conflitos e soluções, vejo mágoas e sorrisos, vejo chuva e vejo sol, vejo amigos e inimigos… Vejo uma vida no seu inicio, é agora, é agora que começa o meu ciclo, não quando nasci, mas agora. Nos cantos do espelho vejo vários pontos de interrogação que se entreolham, varias questões por resolver mas não agora, a seguir; todos têm a sua data para serem desvendados e não têm pressa. Á minha direita vejo vários braços, várias decisões para tomar, muitas oportunidades, mas nem todas vão ser aproveitadas pois algumas palmas das mãos estão vazias…
No centro do espelho, vejo a minha boca abstracta, não está focada, metade sorri outra não se abre, parece que metade quer mostrar os bons momentos que já passou mas a outra, a outra mantém-se intacta, não abre… Essa metade que pouco mostra é a parte das memórias, não digo que guarda só as más, talvez pequenas e grandes mas que não se vão descobrir, que fazem parte da nossa ‘personalidade secreta’; sabe-se que estão lá mas não se sabe o que são. Não vejo muito mais, não sei porquê, mas da próxima vez que me olhar ao espelho, espero ver mais… Até lá, visto uma máscara e continuo a desvendar, a tentar descobrir quem eu sou e o que tenho para dar.
Ana Patacão, em 2007/08

Auto-retrato

Naquele céu estrelado, demasiado estrelado, em que cada estrela corresponde a cada sonho meu. Cada sonho meu e só meu, estrelas mais brilhantes que outras que correspondem aos sonhos que mais fortemente tenciono realizar, outras mais fracas, menos luminosas, simples brilhos que significam sonhos e sentimentos de uma rapariga que ainda não passou da adolescência e que sonha com aquilo com que todas as adolescentes sonham.
De olhos fechados faço a reflexão do meu ”eu” e não obtenho resposta. Sei que tenho amigos e que sou feliz.
Imagens… Essas cruzam-se nos meus pensamentos e sei que tenho pela frente inúmeras estradas com diversos caminhos e que dificilmente saberei qual o que tem o melhor fim. Mas hei-de arriscar, e talvez mais cedo do que eu penso. Posso não encontrar o certo, posso caminhar pelo errado, mas a vida é feita de objectivos e eu vou continuar, sem desistir, sem parar, até ao fim.
Vejo estrelas cintilantes, estrelas que me proporcionam incentivo e que fazem com que eu me deslumbre e acredite no meu futuro. Estrelas essas que me dão coragem e força para seguir, que me fazem ver que não estou sozinha e que consigo construir um futuro com tudo aquilo que mais desejo, de mãos erguidas.
Nesse futuro vou juntar todas essas estrelas e que mais tarde se irão transformar em obstáculos que venci. Vão passar de luzinhas abstractas para coisas reais que vão significar mais do que o universo a brilhar. E, no fim, quando todas as estrelas fugirem para ao pé de mim, aí encontro-me, a mim e à minha felicidade.
Ana Carolina, em 2007/08

terça-feira, 23 de setembro de 2008


Maria Filomena Mónica, «Os Ricos e os Pobres», in Vida Moderna, Quetzal Editores, 1997, pp. 196-198.

No último século, Portugal mudou para além do que se julgava possível. Tanto, que nem nos lembramos já do imobilismo, do isolamento e da rigidez social daquela sociedade. Hoje, qualquer português pode escolher o partido em que votar, reunir-se com quem lhe apetecer, rezar ao Deus que entender, falar sobre o que quiser e ter acesso a uma justiça livre de pressões políticas.
Entre os ricos, na sociedade portuguesa, distinguiam-se os velhos ricos e os novos-ricos. Os velhos ricos eram pacatos, com uma forma de estar reservada, não querendo muitas atenções sobre si. Pelo contrário, os novos-ricos queriam fama, festas e todas as atenções possíveis sobre si próprios.
A partir de 1926 tudo mudou com o regime salazarista, regime que era ainda mais reservado do que os próprios velhos ricos.
Durante o regime salazarista as exibições e os espectáculos promovidos pelos portugueses ricos eram inexistentes, o país era demasiado pobre, ninguém se destacava.
A partir dos anos 60, Portugal atravessou outra fase, já com a introdução da televisão, com a evolução da emigração e com um novo arranque económico. Uma fase de explosiva abastança, onde valia tudo para se distinguir. Os novos-ricos aproveitaram este salto e voltaram, então, a fazer das suas. Com o 25 de Abril e o fim do regime salazarista esta transformação acelerou-se. Os novos-ricos estavam deliciados, tinham finalmente a oportunidade de mostrarem o que é que valiam, e, para grande felicidade deles apareceu a imprensa mundana. Passou a existir uma balança para pesar os diferentes níveis sociais.
É obvio que o aparecimento da imprensa desagradou, e bastante os velhos ricos que odiavam ver a sua vida ser comentada.
Em Portugal, ainda se passou outro fenómeno muito interessante. Os portugueses consideravam que os pobres eram pobres, não por culpa de alguém, mas sim porque o tinham sido desde de sempre. Não tinham hipótese de subir. Mesmo que fizessem igual ou melhor do que os ricos, eram estes que ocupavam os cargos devido à influência do nome da família.
Os poucos que conseguiam ir trepando na escala social, envergonhavam-se a certa altura sobre as suas origens e calavam-se, abrindo um caminho sem obstáculos em direcção ao topo, aos que não tinham vergonha de afirmarem quem eram e que ideais tinham, quer fossem correctos ou errados.
O mérito não servia de nada, é a conclusão que se pode tirar em relação à escala social de Portugal nestas últimas décadas.
Diogo Santos

domingo, 21 de setembro de 2008

A "Pietà", de Clara Ferreira Alves

Este texto de Clara Ferreira Alves fala da dor causada pela perda de um filho, uma dor que nem a autora, nem a mãe referida no texto, entende muito bem.
Clara Ferreira Alves diz-nos que, com o passar do tempo, com a idade e com a experiência vivida o suposto era tornarmo-nos mais fortes, mas isso não acontece, sendo que nem mesmo o tempo ajuda a apagar rancores, mágoas, más recordações.
A Lei da vida é irem primeiro os que primeiro vieram, mas isso é uma coisa que também não podemos controlar. É assim que a autora nos conta como, “na intimidade dos estranhos”, falou com uma mãe que tinha perdido o filho, que fora para a escola e nunca mais regressou.
Considera a autora que as vidas, da mãe e do filho “perdido”, se tinham paralisado. A mãe ficara perdida, sentindo que tinha perdido tudo. Muito mais do que se tivesse perdido uma parte do corpo, uma parte dos cinco sentidos, uma parte do coração, uma parte da alma, tudo. Um filho que “parte” e que deixa para trás esperanças, sonhos, possibilidades, um futuro.
A autora não sabe bem como escutar esta dor, porque só quem passa por ela é que o sabe explicar, nada nos preparando para este género de sofrimento.
Mais adiante, Clara Ferreira Alves, refere também a história de um outro menino que morrera atropelado. Com a festa do seu aniversário marcada, a mãe deste menino desistira de ir buscar o bolo previamente encomendado.
Nada poderá aliviar a dor sentida por uma mãe que, de repente, deixou de o ser. A dor de não poder voltar a tocar, a sentir, a ouvir o seu filho nem o tempo ajudará a esquecer.
‘’O que acontece ao tempo quando o relógio pára de vez?’’
Explico esta frase com outra pergunta: “se o relógio controla o tempo, podemos parar o tempo e controlá-lo?”

Para mim este é um texto muito atraente, infelizmente pelas piores razões. Conjuga o tema da perda de um ente querido com o vazio que as mães sentem ao perderem os filhos, o que para mim constitui um facto injusto. Os sentimentos dessas mães são intensos, muito presentes no seu quotidiano, entram num processo de degradação na sequência da morte dos filhos, revelando marcas que, dificilmente, o tempo conseguirá apagar.
Ponho-me no papel de mãe e nem imagino como ficaria… Desolada, triste, desamparada, inconsolável, abandonada, vazia. Algo de mim me teria sido tirado. Quando se perde um filho, perde-se a nossa perspectiva de futuro, pois é nos filhos que garantimos a possibilidade de realizar todos os sonhos e projectos que não conseguimos nas nossas próprias vidas. Um filho não é apenas uma extensão biológica dos seus pais, mas também psicológica. Por isso, temos a sensação que perdemos um pedaço de nós.
Concordo com a opinião da autora, do principio ao fim do texto, com a excepção apenas de uma frase, quando ela afirma que: ‘’O que se diz a uma mãe que, de repente, deixou de poder ser mãe, de poder amar, ver tocar, sentir, ouvir o seu filho?’’ De poder amar uma mãe não deixa. Por mais distante que o filho esteja, uma mãe ama sempre o filho incondicionalmente, perto ou longe, ama sempre.

Podemos considerar que este texto possui as características de uma crónica, visto que a crónica é um género literário, com uma finalidade utilitária e pré-determinada em agradar e ‘’prender’’ os leitores. É uma narrativa baseada em algo do quotidiano e possui uma crítica e uma opinião da parte da autora.
Uma escrita desempoeirada, irónica e apaixonada, um estilo muito próprio que foi criando, ao longo dos anos, uma maior exposição que lhe veio dar mais notoriedade, fazem de Clara Ferreira Alves uma das cronistas mais lidas em Portugal.
Madalena Martins, em 22 de Setembro de 2008

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