domingo, 5 de outubro de 2008

O aborto foi um dos temas polémicos mais discutidos nos últimos anos. A legalização do aborto foi para muitos uma porta aberta, enquanto que, para outros, a porta do abismo na qual a humanidade se precipitava. Quando me perguntam o que penso, tento organizar o meu pensamento, o meu instinto e o meu sentimento. A realidade é que as pessoas podem defender o que quiserem, mas essa defesa não passa do que quereríamos que acontecesse connosco. Isso não nos garante que o sentimento do momento não fale mais alto.
Compreendo que esta seja a minha maneira de pensar e não pretendo impô-la a ninguém, mas não deixo de pensar que as pessoas não têm consciência, nem do erro, nem da gravidade do que estão a fazer.
O aborto, o facto de matar uma futura criança no seu estado mais inocente, é, para mim, um motivo de estupefacção. Como é possível? Quando o acto sexual é feito em plena consciência, as suas consequências são conhecidas; e se mesmo assim não são valorizadas, a futura mãe perde o direito a abortar o seu filho.
Quando se diz “é o melhor para mim e para o bebé”, o argumento não passa de um simples suspiro que esconde a verdade da coisa. Não há melhor do que dar a um filho a oportunidade de conhecer a mãe, de ver o mundo por mais duro que seja, pois este vai tornar-se capaz de absorver beleza e contentação a partir das coisas mais simples, tal como todas as crianças. E afinal de contas, não há explicação que justifique o não à vida.
Não sou insensível: chego muitas vezes a ter dúvidas do que acho. Mas penso, e disso não tenho dúvidas, que a legalização deste acto torna-o perfeitamente banal, ao ponto fazer parte do ridículo de um planeamento familiar, constituindo uma opção viável.
Assim como um pai deve proibir a criança para a fazer ver, e não lhe dá a liberdade de escolher se esta não tem a capacidade para tal, também o Estado devia proibir o seu povo, se acreditasse que era o melhor para aquele que ainda não sabe escolher. Mas isto não é possível, pois a mentalidade das pessoas (e de todas mesmo) está cada vez mais egocêntrica, o que se reflecte no facto de muitas vezes o aborto ser realizado com a finalidade de acabar com um futuro fardo a suportar. A nova vida é encarada como uma questão determinada e implicada por problemas menores tais como financeiros, sociais, étnicos, e nunca tem o estatuto real de ser um dos poucos assuntos que ultrapassam qualquer entrave. A nova vida só é possível, para alguns casos, quando ainda cabe na ínfima parte que sobra de todos os projectos, ambições, desejos… Não digo sempre, nem que é a grande parte, e acredito que ainda há muita gente que se sente realizada ao ter um filho que é seu.
Por outro lado, há situações e situações. Abusos sexuais e pedofilia são considerados crimes pela Lei, e o aborto, nesses casos, já era permitido, mesmo antes do último referendo.
No caso de insanidade mental o mesmo acontece, já que a pessoa não está consciente dos seus actos e não tem noção das consequências. A essas situações dou o benefício da dúvida e considero como sendo excepções, pois aí concordo com a liberdade de decisão por parte dos pais do bebé.
Por isso concluo, dizendo que, nas situações comuns, o aborto nunca devia ser uma opção nem um escape. Em situações extremistas, a decisão já deve fazer parte da mãe que carrega o filho, sofrendo os prejuízos por qualquer que seja a sua decisão.
Manter a Lei como estava antes do último referendo - não estando legalizado o aborto, mas havendo excepções - era a coisa certa a fazer para o bem de todos. Como não aconteceu, agora cabe a cada um (mesmo que não tenha capacidade para tal) saber o que deve e não deve fazer.
Marta Serra

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