Escusado será dizer que concordo com as suas palavras, pelo facto de ser tão óbvia esta realidade. Temos de ser realistas: qual é o grau de abertura e de iniciativa no diálogo dos muçulmanos para com as outras religiões? Será por acaso que não existem Igrejas Católicas em Meca enquanto que existem mesquitas em Itália, sede de todo o Cristianismo? E mesmo em Portugal, a Igreja Católica mantém uma relação saudável e de tolerância para com os muçulmanos no país, embora estes estejam pouco abertos ao diálogo. Como o Cardeal disse, “só é possível dialogar com quem quer dialogar”. Não há dúvidas de que para poder existir diálogo inter-cultural é preciso estar na disponibilidade de conhecer e de se dar a conhecer às outras culturas ou religiões, simplesmente porque não as conhecemos nem as outras nos conhecem. O conhecimento do outro e a sua compreensão é o primeiro passo para o diálogo, e portanto, sendo a religião muçulmana fechada em si mesma, não deixa espaço senão para a profunda separação entre religiões. O diálogo é a única ponte que as pode ligar.
Nós não podemos ignorar o peso que as nossas diferenças culturais têm na relação uns com os outros, porque estas existem, apesar de todo o esforço para deixar isso de lado. Isto não se trata de preconceito ou de intolerância, mas sim de realismo.
Vivemos numa sociedade que pretende cultivar o diálogo inter-cultural e religioso, como sinal da evolução de mentalidades, mas temos de reconhecer que ainda não é isso que se colhe. Queremos chegar lá, mas enquanto as religiões não comunicarem, temos de ter consciência das dificuldades que existem nas relações entre pessoas de diferentes religiões e não podemos ignorá-las. Além do mais, existem casamentos entre mulheres europeias e homens muçulmanos que são a prova viva de que o matrimónio pode perdurar, e outros ainda que acabam de formas terríveis, o que não contradiz a observação que foi feita: “é preciso ter cuidado”, não é preciso evitar.
Na religião muçulmana, a mulher é inferiorizada, é submetida em tudo ao marido e perde tanto as suas liberdades como muitos dos seus direitos. Trata-se de factos reais que justificam o conselho do Cardeal, mas que não impedem o seu relacionamento e que não incentivam de modo algum nem à intolerância, nem à discriminação. As pessoas são livres de fazerem o que acharem melhor, e embora pensem que Dom José Policarpo acaba por atacar os muçulmanos e de se colocar contra eles, este apenas está a favor da mulher e da sua liberdade. A verdade é que esta é mais uma pedra que se pode atirar à Igreja, esta que “continua a viver na antiguidade” e que “não está disposta a acompanhar a evolução da sociedade”. E isto percebe-se, uma vez que a Igreja não pode evoluir ao ponto de aceitar ideais que vão contra os seus princípios. Mas criticar a religião católica e dizer que esta mostra discriminação perante outras religiões, é esquecer uma das suas principais missões.
As mulheres devem, portanto, pensar muito bem antes de casarem com um muçulmano, porque estarão a sujeitar-se a regras rigorosas e intransigentes que não levam de nenhum modo a uma maior tolerância ou respeito entre indivíduos com crenças diferentes.
Marta Serra
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