quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

As palavras de D. José Policarpo, Cardeal de Lisboa, proferidas na noite de terça-feira, dia 13, foram severamente atacadas por parte dos indivíduos e das instituições. As suas declarações de que as mulheres europeias “têm de ter cautela com os amores com muçulmanos” e que devem “pensar duas vezes antes de casarem com um muçulmano” foram criticadas e interpretadas de uma forma incorrecta por parte da comunicação social.
Escusado será dizer que concordo com as suas palavras, pelo facto de ser tão óbvia esta realidade. Temos de ser realistas: qual é o grau de abertura e de iniciativa no diálogo dos muçulmanos para com as outras religiões? Será por acaso que não existem Igrejas Católicas em Meca enquanto que existem mesquitas em Itália, sede de todo o Cristianismo? E mesmo em Portugal, a Igreja Católica mantém uma relação saudável e de tolerância para com os muçulmanos no país, embora estes estejam pouco abertos ao diálogo. Como o Cardeal disse, “só é possível dialogar com quem quer dialogar”. Não há dúvidas de que para poder existir diálogo inter-cultural é preciso estar na disponibilidade de conhecer e de se dar a conhecer às outras culturas ou religiões, simplesmente porque não as conhecemos nem as outras nos conhecem. O conhecimento do outro e a sua compreensão é o primeiro passo para o diálogo, e portanto, sendo a religião muçulmana fechada em si mesma, não deixa espaço senão para a profunda separação entre religiões. O diálogo é a única ponte que as pode ligar.
Nós não podemos ignorar o peso que as nossas diferenças culturais têm na relação uns com os outros, porque estas existem, apesar de todo o esforço para deixar isso de lado. Isto não se trata de preconceito ou de intolerância, mas sim de realismo.
Vivemos numa sociedade que pretende cultivar o diálogo inter-cultural e religioso, como sinal da evolução de mentalidades, mas temos de reconhecer que ainda não é isso que se colhe. Queremos chegar lá, mas enquanto as religiões não comunicarem, temos de ter consciência das dificuldades que existem nas relações entre pessoas de diferentes religiões e não podemos ignorá-las. Além do mais, existem casamentos entre mulheres europeias e homens muçulmanos que são a prova viva de que o matrimónio pode perdurar, e outros ainda que acabam de formas terríveis, o que não contradiz a observação que foi feita: “é preciso ter cuidado”, não é preciso evitar.
Na religião muçulmana, a mulher é inferiorizada, é submetida em tudo ao marido e perde tanto as suas liberdades como muitos dos seus direitos. Trata-se de factos reais que justificam o conselho do Cardeal, mas que não impedem o seu relacionamento e que não incentivam de modo algum nem à intolerância, nem à discriminação. As pessoas são livres de fazerem o que acharem melhor, e embora pensem que Dom José Policarpo acaba por atacar os muçulmanos e de se colocar contra eles, este apenas está a favor da mulher e da sua liberdade. A verdade é que esta é mais uma pedra que se pode atirar à Igreja, esta que “continua a viver na antiguidade” e que “não está disposta a acompanhar a evolução da sociedade”. E isto percebe-se, uma vez que a Igreja não pode evoluir ao ponto de aceitar ideais que vão contra os seus princípios. Mas criticar a religião católica e dizer que esta mostra discriminação perante outras religiões, é esquecer uma das suas principais missões.
As mulheres devem, portanto, pensar muito bem antes de casarem com um muçulmano, porque estarão a sujeitar-se a regras rigorosas e intransigentes que não levam de nenhum modo a uma maior tolerância ou respeito entre indivíduos com crenças diferentes.

Marta Serra

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