Vergílio Ferreira nasceu em Melo, no concelho de Gouveia, em Janeiro de 1916 e reuniu em si diversas facetas, destacando-se a de filósofo e a de escritor, a de ensaísta, a de romancista e a de professor. No entanto foi na escrita que mais se destacou, sendo dos intelectuais contemporâneos mais representativos. Toda a sua obra está impregnada de uma profunda preocupação ensaística.Este escritor foi também um existencialista por natureza. A sua produção literária reflecte uma séria preocupações com a vida e a cultura.
A sua obra recebeu influências do existencialismo de Satre, de Marco Aurélio, Santo Agostinho, Pascal, Dostoievski, Jaspers, Kant e Heidegger. Os clássicos gregos e latinos como Ésquilo, Sófocles e Lucrécio, também assumiram uma importância vital nos pensamentos deste escritor.
O romance Uma Esplanada sobre o Mar (1987), que é aquele de que vos falo, recebeu o prémio da Associação Portuguesa de Escritores, e Em Nome da Terra (1990) retomam o tema da transitoriedade da vida, sujeita ao passar do tempo. O espólio do escritor composto por prémios, livros e alguns objectos pessoais foi doado a Gouveia, concelho de onde Vergílio Ferreira era natural e estão em exposição na Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira. O seu espólio de originais manuscritos de quase todos os seus romances foi doado à Biblioteca Nacional.
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Relativamente ao conto, este trata de uma rapariga loura, de olhos claros e de uma tez de pele muito bronzeada do sol que se encontra numa esplanada sobre o mar a observar as ondas e os seus movimentos ondulatórios envolventes. Esta encontra-se à espera de um rapaz igualmente louro que a terá convidado com o objectivo de terem uma conversa na medida em que este lhe queria fazer uma revelação.
Quando o rapaz chega, senta-se e inicia a conversa. Durante o período em que este diálogo decorre o rapaz demonstra-se pouco explícito, “enrolando” a conversa tal como se caracteriza o movimento ondulatório das ondas, relativamente ao assunto que motivou a ida da rapariga à esplanada daquela praia, sendo que esta tenta de todos os modos saber qual a finalidade de tal encontro, demonstrando-se frequentemente impaciente face ao facto de que o rapaz não se encontra a ser objectivo. Por sua vez, o rapaz, encontra-se aparentemente sereno, tentando explicar a rapariga que existe um certo momento na nossa vida em que dedicamos especial atenção aos mais pequenos pormenores, em que observamos as coisas mais insignificantes de uma forma muito particular, de uma forma intensa e esse momento será o momento em que temos a consciência que podemos perder tudo isso, até como já referi as coisas mais insignificantes.
No fim do conto, o rapaz acaba por lhe revelar que o médico lhe disse que lhe restavam 3 meses de vida e, é deste modo que acaba o conto.
O narrador é não participante visto que apenas narra o conto não participando neste.
O existencialismo é uma corrente filosófica que surgiu na primeira metade do século XX e que se fundou na situação de um indivíduo que mediante a vivência num universo absurdo, sem sentido, que não é credível do ponto de vista da realidade em que vivemos, em que o homem enquanto humano, é um ser dotado de vontade própria, portanto o existencialismo é uma reflexão sobre a existência humana, é a viragem dos pensadores para a problemática desta temática.
Jean-Paul Satre é o fundador desta corrente filosófica que ele próprio define como uma corrente de pensamento que reabsorve o próprio “eu” de cada um, toda e qualquer problemática e a revê através do seu raciocínio pessoal ou da sua profunda vivência e tal como ele diz “O Homem está condenado a ser livre”, querendo isto dizer que a liberdade é um peso, é uma responsabilidade tanto no bom sentido como no mau sentido, sendo que neste podemos destacar como exemplo, a guerra.
A liberdade, sendo entendida como a ausência de constrangimentos, a capacidade de fazer tudo o que se quer, uma atitude de auto-determinação, é autonomia, é independência, é uma construção pessoal que implica consciência e responsabilidade, portanto os seres humanos são sujeitos dotados de liberdade, que realizam as suas acções irregulares e imprevisíveis, de modo consciente e livre, pelo que o agente da acção é sempre responsável pela escolha que faz.
Certos conceitos como o desespero, o nada, o vazio constituem categorias negativas nos quais determina o homem na busca pelo sentido da existência e, penso que esses conceitos se relacionem um pouco com a personagem masculina que surge neste conto sentada à mesa com a rapariga.
Esse personagem refere que na parte final do conto pretende transmitir à jovem que o médico o informou de que tinha apenas 3 meses de vida e penso que já neste caso particular podemos identificar que pode surgir talvez o conceito de um desespero interior enorme, de uma frustração incalculável porque, possivelmente, este pensa que tudo o que fez até ao momento foi em vão, que não valeu de nada todos os esforços, todo o tempo gasto, poderão ainda surgir perguntas como: “Porquê a mim?”, “O que é que eu fiz para merecer isto?”, relacionando-se sobretudo neste âmbito. Estas questões que talvez para nós sejam meramente interrogações, para aquele sujeito poderiam constituir uma força na razão de que talvez pudesse encontrar uma explicação, uma resposta para as suas mais ínfimas questões referentes aquele facto.
Seguidamente, depois de muito reflectir, o rapaz opta por revelar a verdade à rapariga e, penso é nesta situação que poderá surgir uma sensação de vazio, de nada porque sente que está sozinho perante tal situação.
Inês Santos, em 2007/08
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